Capa
Artes do corpo, corpos da arte
descrição
Uma das explicações mais plausíveis para que o pensamento ocidental tenha estabelecido a Estética como disciplina filosófica apenas no século XVIII seria o fato de que as reflexões sobre a arte, desde Platão até a Modernidade europeia, foram impregnadas pela noção de que existe uma beleza incorpórea e ideal, a qual, por definição, é superior à das manifestações sensíveis. Entretanto, o fato de que o termo “artes do corpo”, que compõe o título deste livro, não cause, atualmente, nenhum escândalo pode ser explicado, pelo menos parcialmente, pela existência multimilenar de métiers artísticos, nos quais o emprego do corpo é mais imediatamente perceptível, tais como a dança, o teatro e outras artes performáticas.
Além disso, cumpre observar que, desde a propositura da Estética como parte integrante da filosofia ocidental, pelo racionalista Alexander Baumgarten, passando pelo Empirismo Britânico, pelo Iluminismo Francês e pelo Idealismo Alemão, até chegarmos na filosofia europeia contemporânea, travaram-se duras batalhas teóricas para que a corporeidade fosse reconhecida como aspecto fundamental para toda e qualquer reflexão filosófica séria sobre as artes e as culturas. Desse modo, mesmo num cenário cultural em que a desmaterialização das manifestações estéticas é reconhecida tanto como possibilidade criativa quanto como uma realidade inquestionável, nunca pareceu tão evidente a qualquer pessoa que se ocupe seriamente da prática e/ou da reflexão da arte que essa tem a sua constituição inextrincavelmente ligada ao elemento corpóreo. Este livro enfatiza essa dimensão da arte em muitas de suas manifestações atuais, do ponto de vista da Estética contemporânea.