Capa
Cena de vigília
descrição
Muitas vezes as noites revelam sua insalubridade ao sono. Na cidade o corpo de dentro da morada quer sair, mas não pode sair, há uma pandemia. A vida, no entanto, ainda é a vida no lado de fora, nas calçadas, na noite tenebrosa da cidade. Algumas pessoas convivem com os ratos. Algumas pessoas não se preocupam em sair de casa porque já vivem fora, vivem com uma rigidez nas mandíbulas. A insônia passa a ter o tamanho das noites, infiltrada em cada greta, em cada gueto.
Cena de vigília de Patrícia Galelli traz uma visada acerca do ranger de dentes contemporâneo. Os dentes da serra na capa, os dentes dos ratos, os dentes das gentes que vivem com um bruxismo crônico nestes tempos nefastos, cuja erradicação da fome se assemelha a uma erradicação da vida. Contra o estatuto muitas vezes genocida que vemos no país é necessária a metamorfose, armar-se com o poema entre os dentes, como faca de lâmina afiada. Um sabre abrindo a noite com um poema voraz como este de Patrícia Galelli. E se ficaremos acordados, bom estarmos prontos para seguir “firme assim na vida” e que a insônia seja a potência do sonho.