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Ruptura

Ruptura

Coletivo Centelha
tipo livro
estado novo
capa comum
ano de publicação 2019
categoria(s) Não-ficção
subcategoria(s) Política, Pensar o mundo
número de páginas 120
peso 175g
dimensões 18cm / 13cm / 2cm
falta temporária
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descrição

O mundo não se governa mais. Em toda parte, explode a revolta surda contra o empobrecimento e a impotência da soberania popular em se fazer ouvir por aqueles que nos espoliam, que afogam nossos corpos na lama tóxica enquanto voltam para casa com suas gordas comissões e a certeza de continuar a preservar os lucros criminosos de seus acionistas. Essa revolta apenas começou. Todos os governos que levantam podem cair com a rapidez da frustração e do desgosto. Os únicos que se sustentam são aqueles que não fingem mais governar nada, mas que usam o poder simplesmente para fornecer a parcelas da população o gosto drogado da autorização da violência contra os vulneráveis.

Desde 2011, quando o primeiro corpo de trabalhador foi autoimolado na Tunísia, explodindo a sequência de revoltas conhecida como “primavera árabe” contra essa mistura insuportável de miséria e de impotência, o mundo nunca mais voltou às suas ilusões de curso tranquilo. Ele não voltará mais. O mundo no qual crescemos, no qual aprendemos a desejar, a andar, circular, esse mundo acabou. O que dele sobrou é apenas uma fantasmagoria. Não há mais caminho de retorno, não há direitos a assegurar ou democracia a defender. Nossa democracia não está no passado, pois ela não pode estar onde nunca existiu. Ela está na nossa frente, como uma invenção radicalmente coletiva que surgirá quando calarmos de vez a apatia que o poder quer nos impor e à qual nos vinculamos com um prazer inconfesso. Pois saibam que, contra esse desejo de fazer o mundo desabar, nós ainda veremos todas as forças se levantarem. O fascismo sempre foi a reação desesperada contra a força de uma revolução iminente no horizonte. Se ele voltou agora é porque o chão treme, é porque as fendas estão por toda parte. Ouçam como treme o chão, como há algo que quer atravessar o solo. Não nos deixemos enganar novamente, vivemos uma contrarrevolução preventiva que não temerá nenhum nível necessário de violência para nos calar, que rasgará todos os disfarces para agir mais livremente. Podemos estar perdendo agora, mas porque estamos sem armas.

Perdemos a coragem de levantar nossas armas, de recusar pactos e conciliações que servem apenas para preservar a violência contra nós mesmos. Como animais acostumados à paisagem estável, preferimos acreditar que a tempestade acabará por passar. Mas a tempestade só acabará quando rasgarmos as nuvens negras que foram empurradas para cima de nossas cabeças. E precisamos de todas as formas de armas para isso. Tudo é necessário agora, desde que tenhamos a consciência do não retorno, desde que tenhamos o desejo de sermos ingovernáveis. O momento é mais decisivo do que alguns gostariam de acreditar. Só governos fracos são violentos. Eles têm de vigiar todos os poros, pois sabem que seu fim pode vir de qualquer lugar. Governos fortes são magnânimos, porque vislumbram tranquilamente sua perpetuação. O que se contrapõe a nós é fraco e desesperado. Ele cairá. É hora de fazê-lo cair.

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