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Zilda Arns: uma biografia
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Zilda Arns: uma biografia nos oferece o retrato nítido e sem retoques da criadora da Pastoral da Criança e principal responsável pela histórica redução da mortalidade infantil no Brasil e pela melhoria das condições de vida de milhões de crianças em vários países do mundo.
O preceito católico de servir ao próximo sempre foi o lema de vida da pediatra Zilda Arns. Jovem, pensou em ser freira – a carreira religiosa conquistou três de suas irmãs e dois irmãos, entre eles o ex-arcebispo de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns. Zilda pretendia viver sem as obrigações de cuidar de uma família, desenvolvendo suas ações como médica sanitarista em comunidades pobres, no Brasil ou no exterior. Acabou conhecendo Aloysio Bruno Neumann, com quem se casou e criou seis filhos, sem deixar de lado em momento algum a profissão e a incursão nas políticas públicas, implantando a Pastoral da Criança, desenvolvendo programas de redução da mortalidade infantil. Zilda Arns – Uma biografia é o cuidadoso levantamento do jornalista Ernesto Rodrigues da trajetória de uma mulher que fez política a vida inteira sem precisar subir em palanques. E que se manteve atuante na vida pública nos sucessivos governos desde a redemocratização do país sem qualquer envolvimento partidário.
Contando com o apoio incondicional do marido para estudar e trabalhar, numa época em que casamento era sinônimo de viver exclusivamente para a família, Zilda Arns esteve à frente de diversos programas de atenção à saúde de crianças, em hospitais e na Secretaria de Saúde do Paraná. Em 1983, ela passa a coordenar, a pedido da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a Pastoral da Criança, implantando projetos de aleitamento e reidratação de recém-nascidos. O sucesso do projeto, que reduz drasticamente a mortalidade infantil, o expande por todo o território nacional e para outros países, entre eles o Haiti, onde Zilda falece, em 2010, durante o terremoto que atingiu a capital, Porto Príncipe. Ela havia acabado de fazer uma apresentação sobre o programa da Pastoral da Criança, que seria levado àquele país, quando o teto da igreja onde se encontrava, junto com 150 pessoas, desabou.
Convicta de que o compromisso com a saúde era sua missão – ela decidiu cursar Medicina contrariando o pai, Gabriel Arns, que pouco frequentara a escola e, apesar de incentivar os treze filhos a estudar não considerava a carreira de médica adequada a mulheres –, Zilda Arns frequentemente afligia-se que sua dedicação ao trabalho a impedisse, em diversas ocasiões, de estar perto da família. Grávida, deixou quatro filhos aos cuidados de Aloysio para fazer um curso de três meses na Colômbia, em 1973. Algum tempo depois, os estudos de saúde pública a levavam a passar apenas os fins de semana em casa, enquanto ficava, de segunda a sexta-feira, em São Paulo. Muito lastimou que compromissos profissionais a prendessem em Curitiba, em 18 de fevereiro de 1978, quando o marido Aloysio morreu, de enfarte fulminante, aos 46 anos, depois de salvar uma das filhas de afogamento, na praia de Betaras, no litoral paranaense. Os depoimentos dos filhos, no entanto, exaltam o desprendimento da mãe, que ainda sofreria a perda de uma filha num acidente de automóvel.
Mas para além dos dramas pessoais, a narrativa fala sobre uma vida de muito trabalho e do reconhecimento pela implantação de programas de saúde pública celebrados no mundo inteiro. Trabalho realizado com grande empenho e muitas vezes à custa de difíceis embates contra políticos, burocratas do sistema de saúde pública, representantes dos interesses financeiros da indústria farmacêutica e até mesmo de colegas médicos e da Igreja Católica. O reconhecimento, no entanto, não veio apenas de governos, mas de anônimos, como um gari que, na última tarde que Zilda Arns desfrutou com a família, antes de viajar para o Haiti, pediu para tirar uma foto com “a mulher que cuida das crianças no Brasil”. Este certamente o mais valioso para ela.