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A saga de Gösta Berling
descrição
A saga de Gösta Berling (1891) foi o primeiro livro publicado pela sueca Selma Lagerlöf (1858-1940), e ela, por sua vez, a primeira mulher a receber um prêmio Nobel de Literatura, em 1909. Esse romance incomparável, nunca publicado no Brasil, tem tradução direta do sueco e traz um ensaio da escritora francesa Marguerite Yourcenar, autora de clássicos modernos como Memórias de Adriano e A obra em negro. Para Yourcenar, “esta primeira obra talvez seja a mais espontânea da grande escritora, um imenso hino à vida ao mesmo tempo que um canto de revolta inocente”. Nela, as memórias de infância de Lagerlöf estão muito presentes, ao evocar sua região natal, o distrito de Värmland, na fronteira com a Noruega, e sua experiência de crescer numa antiga casa senhorial.
Gösta Berling, um homem bonito, capaz de provocar paixões arrebatadoras, é um pastor destituído depois de alguns vexames provocados pelo alcoolismo. Rejeitado pela comunidade, torna-se mendigo e depois cavalheiro da casa senhorial de Ekeby, graças à compaixão de Margareta Celsing, a mulher mais poderosa de Värmland, controladora de sete fundições de ferro e amante do vinho e das cartas, e da mesa repleta de alegres convivas. Em pouco tempo, Gösta torna-se o “cavalheiro dos cavalheiros”, que sozinho era maior orador, cantor, músico, caçador, bebedor e jogador do que todos os outros 12 cavalheiros de Ekeby juntos.
Ao conceder o Nobel a Selma Lagerlöf, a Academia Sueca citou A saga de Gösta Berling: “A obra é notável não só por romper decisivamente com o realismo falso e insalubre dos nossos tempos, mas também por seu caráter original”. Pois é a ambientação assombrosa que mais se destaca no romance: uma natureza pungente que às vezes até emite voz, um lago deslumbrante, volta e meia congelado, campos nevados, árvores imponentes e o cerco de animais ameaçadores como ursos, linces, lobos, e também os mais dóceis, como cães, cavalos e corujas. A eles ocasionalmente se reúnem criaturas fantásticas, como trolls, duendes e a ninfa da floresta. Vários críticos contemporâneos veem nesse romance de estreia um precursor do realismo mágico.
Apesar do frio e das ameaças circundantes, os personagens do livro estão sempre dispostos às festas, à dança, à música – temas perfeitos para o estilo colorido de Lagerlöf. Cabe observar que, no título do romance, a palavra “saga” não tem o sentido mais conhecido, de épico medieval, e sim de fábula ou narrativa de peripécias, ricas em referências às tradições populares escandinavas.
Embora a presença do protestantismo seja recorrente, sobressai em A saga de Gösta Berling uma atmosfera panteísta, quase pagã. Em dado momento do romance, a narradora recomenda: “Quem pretende ver como as coisas se relacionam umas com as outras precisa se afastar da cidade e viver numa cabana solitária na orla da floresta”.
A saga de Gösta Berling foi adaptado para o cinema pelo diretor Mauritz Stiller em 1924. O filme, um clássico do cinema sueco em sua era de ouro silenciosa, lançou internacionalmente a estrela Greta Garbo, no papel da condessa Elizabeth Dohna.