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Arquipélago Gulag
descrição
Um dos livros mais impactantes sobre o sistema de campos de trabalhos forçados da União Soviética, escrito por um ex-prisioneiro, prêmio Nobel de Literatura.
Arquipélago Gulag, obra-prima do russo Aleksandr Soljenítsyn (1918-2008), prêmio Nobel de Literatura, foi escrita clandestinamente entre 1958 e 1967. Para contar a história, construída a partir do testemunho de 227 sobreviventes dos campos do Gulag, na União Soviética, Soljenítsyn precisou montar uma verdadeira operação secreta. Passou duas temporadas em um sítio na Estônia, longe da vigilância soviética, onde escreveu a maior parte do texto. Com o manuscrito pronto, aquartelou-se em uma casa de campo próxima a Moscou, onde revisou, datilografou e microfilmou cada página em 1968. Uma cópia foi entregue a uma amiga francesa, que naquele mesmo ano contrabandeou o livro para fora da cortina de ferro.
A primeira edição de Arquipélago Gulag foi lançada em Paris no final de 1973, mesmo ano em que o manuscrito foi descoberto pela KGB. Poucas semanas depois do lançamento, o autor foi preso, acusado de “alta traição”, teve a cidadania soviética retirada e foi obrigado a deixar a URSS. Isso não impediu o sucesso do livro. Na França, sua tiragem inicial de 300 exemplares esgotou, literalmente, em algumas horas. O livro prontamente começou a ser traduzido para dezenas de línguas, recebeu críticas positivas, vendeu milhões de cópias. Rádios europeias como a BBC de Londres ou a alemã Deutsch Welle passaram a transmitir a leitura de trechos dele. Em Munique, a Rádio Liberdade, bancada pelos EUA, obteve autorização para ler o Arquipélago Gulag na íntegra. O sinal saía da Alemanha Ocidental e atravessava a cortina de ferro, chegando em regiões como Polônia, Tchecoslováquia, Romênia, Hungria.
Testemunho íntimo e épico, o Arquipélago Gulag é uma narrativa histórica detalhista e, ao mesmo tempo, um ensaio político-filosófico ambicioso. Se à época do lançamento suas qualidades literárias disputaram espaço com o vigor da denúncia e o calor da disputa política, hoje essas características sobressaem. A força da narrativa, que se baseia em parte na experiência do próprio autor, não seria a mesma sem a estrutura encontrada para torná-la ao mesmo tempo um relato memorialístico, uma história dos subterrâneos da Revolução Russa e uma reflexão filosófica, espiritual e política. Em resumo, uma obra que faz jus a seu subtítulo: Um experimento de investigação artística. Aos achados formais, como observa no posfácio da obra o historiador Daniel Aarão Reis, somam-se “as variações de acento, de ênfase e de humor que transitam, quase sem solução de continuidade, entre sarcasmo e piedade, entre a quente indignação e a ironia fina”.