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Munique 1919: Diário da revolução
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Revolução, contrarrevolução e ódio aos judeus: os recém-descobertos diários de Victor Klemperer sobre a República Soviética de Munique de 1919.
Obscurecida pelo desenlace da Primeira Guerra Mundial e pela proximidade da ascensão do nazismo, a revolução alemã de 1918-1919 não se encontra entre os acontecimentos mais lembrados nos manuais de história brasileiros. Contudo, foi no contexto revolucionário que o país deixou de ser uma monarquia e pela primeira vez constituiu um regime democrático, a República de Weimar. Depois de quatro anos e meio de combates e de sacrifícios internos, o descontentamento generalizado fortaleceu a política partidária, trazendo para o primeiro plano a poderosa coalizão social-democrata, que abrigava, entre suas fileiras mais radicais, a Liga Espartaquista, liderada por Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht. Os primeiros anos da República de Weimar foram um experimento político inédito de democracia radical, com a formação espontânea de conselhos autogeridos em vários estamentos sociais.
Esse período rico e conturbado é o cenário de Munique 1919 – Diário da revolução, feito de anotações do filólogo Victor Klemperer (1881-1960). Trata-se de um testemunho histórico inestimável. Aos acontecimentos históricos, somam-se as agruras – e mesmo os pequenos prazeres – do cotidiano em tempos de guerra. Desde 1995, quando os diários que Victor Klemperer manteve ao longo de várias décadas foram publicados em livro, eles se tornaram uma fonte inestimável na historiografia contemporânea, cobrindo o período que se inicia ainda nos tempos do Império, passando pela República de Weimar, o Terceiro Reich e a República Democrática da Alemanha (ou Alemanha Oriental, de regime comunista pró-soviético). A edição apresenta os textos de Klemperer referentes à revolução de 1918-1919, que só vieram à público recentemente na Alemanha. A obra compõe-se de uma mescla de textos retirados dos diários de Klemperer e das cartas que enviou como correspondente do jornal Leipziger Neueste Nachrichten, de tendência conservadora e contrarrevolucionária, não muito distante das convicções do autor.
A própria biografia de Klemperer o credenciou para a posição de observador privilegiado: combateu na guerra, era de uma família judaica convertida ao protestantismo para escapar das garras do antissemitismo e presenciou o avanço do obscurantismo no ambiente acadêmico. Numa anotação de fevereiro de 1919, explica por que se dedicou a registrar o mundo a seu redor: “Não escrevo meu Curriculum como confissão, e sim como contribuição à história intelectual e cultural da época, e em meio a toda essa miséria de hoje, apesar de todo o abalo e de todo o desespero, presto diligentemente atenção a qualquer detalhe que possa ser proveitoso para minha LTI, minha Lingua Tertii Imperii”. As referências são à sua autobiografia em progresso, Curriculum vitae, e a seu tratado linguístico sobre a língua alemã falada durante o Terceiro Reich.